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terça-feira, 1 de outubro de 2013

“Aprende-se na prática, mas não é o suficiente”, afirma Maria Helena Cunha sobre a Produção Cultural brasileira

Maria Helena Cunha participa do 3º Enprocult nesta quarta-feira, 2
O debate sobre a Formação do Produtor Cultural será pauta da primeira mesa redonda do Enprocult, que acontece nesta quarta-feira, 2, às 9h, na Faculdade de Arquitetura da UFBA. Uma das convidadas para o encontro é a diretora da Inspire Gestão Cultural e da Duo Editorial, Maria Helena Cunha. Autora do livro “Gestão Cultural: profissão em formação”, a pesquisadora abordará temas relacionados a seu estudo acerca da capacitação de gestores culturais. Entrevistada pela Produção do 3º Enprocult, Maria Helena iniciou um diálogo sobre a formação em cultura e afirmou: “aprende-se na prática, mas não é o suficiente”. 

Enprocult: A área da Produção Cultural vem passando por mudanças significativas, principalmente depois da gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura. Qual a importância da realização de um encontro nacional com o objetivo de debater o setor?

Maria Helena Cunha: Não há dúvida que houve avanços na área da cultura, e aqui me refiro, em especial, na área de produção e gestão cultural, reflexo de um processo de organização e complexificação do setor. Desta forma, é de extrema importância a realização de encontros nacionais que colocam em pauta a discussão sobre o processo de formação, fundamental para o acompanhamento dos avanços já conquistados e a reflexão sobre as perspectivas futuras que envolvam não só a ampliação das possibilidades de atuação profissional, mas a sua valorização enquanto setor capaz de realizar intervenções propositivas na sociedade.  

Enprocult: Sabemos que não é necessário ter formação na área para atuar como produtor cultural. Nossa profissão tem um caráter multidisciplinar e isso, de algum modo, vai ser debatido no evento. Ainda assim, de que modo a formação em cultura é importante? Como você avalia a criação recente de inúmeros cursos no setor, sejam de graduação, especialização ou profissionalizantes?

Maria Helena Cunha: Atualmente, eu não afirmaria com tanta certeza que não é necessário uma formação para atuar como produtor cultural, a experiência profissional é fundamental, mas não elimina a necessidade de uma formação específica. Assim, para dar conta da complexidade que envolve o setor cultural, que tem uma capacidade de absorção de profissionais com perfis diferenciados, a formação torna-se um grande diferencial, seja por meio de cursos livres ou acadêmicos. Ferramentas de trabalho como, por exemplo, o planejamento estratégico, deve fazer parte do processo de formação de um profissional que deseja atuar na área. Aprende-se na prática, mas não é o suficiente. 

É preciso avaliar os diversos cursos específicos para o setor sob vários aspectos, mas acredito que o problema maior ainda continua sendo a concentração nos grandes centros urbanos. Apesar de verificarmos o crescimento do volume de cursos ofertados nessa área, ainda é pequeno para a demanda nacional, além de ser necessário um acompanhamento do conteúdo disponibilizado.  

Enprocult: Com a criação de mais cursos, o que vemos é a multiplicidade de grades curriculares, muito divergentes entre si. De que modo isso é positivo ou negativo? A padronização mínima de disciplinas ou temas a serem estudados é necessária?

Maria Helena Cunha: Como dizia anteriormente, é preciso entender essa grade curricular. Os conteúdos oferecidos pelos cursos sempre serão diferentes, pois um curso pode ter um viés mais voltado para a política e a gestão pública da cultura e outro com um viés para o mercado. Há ainda a existência de cursos que trazem para a sua grade curricular a discussão desses dois pontos de vista como possibilidade de atuação profissional. Depende inclusive do perfil da instituição que está à frente do curso. 

Num país com a dimensão territorial brasileira, acredito na importância da construção de uma linha dorsal que constitua um desenho comum que inclua disciplinas básicas e necessárias, mas é importante respeitar a diversidade regional, local e suas especificidades. Embora já tenha sido colocado em pauta em alguns encontros sobre formação profissional, acredito que sejam necessários mais estudos e pesquisas sobre o tema.

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